A vida no Acampamento não era tão fácil quanto Renee imaginara. Mesmo para uma prole de Hipnos. A jovem acordava cedo, tomava café, ajudava nos campos de morangos, almoçava, dormia um pouco – lógico – e ia treinar. Todos os dias, mesma rotina. Era um tanto cansativo pensar no amanhã como um replay do hoje, mas, a prole de Hipnos começava a se adaptar a tal rotina.
Aproximava-se das 17:30 quando ela decidiu que era a hora perfeita para treinar, gostava do fato de treinar a noite, não sabia se tinha algo em relação ao seu pai, mas, sentia-se mais confortável e a vontade. Além de que: poucos campistas ficavam na arena após as 17h.
Renee não possuía muitas armas, então, pegou as que ganhara de seu pai em sua reclamação: a espada e a flauta. Era interessante parecerem artigos tão simples, mas, na verdade, faziam um verdadeiro estrago se bem utilizados.
A jovem caminhou a passos lentos até a construção, observando vários semideuses suados vindos de lá, em sua maioria, de Ares. Ela sentiu o cheiro antes mesmo de chegar até lá: suor e poeira, se é que isso tem realmente um cheiro específico, para ela, tinha. Caminhou até onde o centauro Quíron deveria estar, mas, aparentemente, o turno dele acabara e, em seu lugar, encontrava-se uma prole do deus da Guerra.
— Hey cara, qual vai ser hoje? — Renee revirou os olhos. Novamente haviam confundido-a com um garoto.
— Tem alguns miolos por aí? Estou a fim de esmagar.
A prole de Ares sorriu com o comentário e tocou no ombro de Renee levando-a a uma ala onde eles ficavam presos. O jovem foi andando um pouco mais a frente, após entrarem lá, e ela ficou lendo as plaquinhas que estavam localizadas nas entradas das jaulas: Ciclope, cão infernal, harpia…
— Acho que este aqui é bacana para você. — E mostrou a entrada da jaula para a jovem. Era como um cão infernal, porém, maior e mais forte. E possuindo duas cabeças. — Este é um dos primos do cão do Hades. Dá conta?
Renee, apesar de não estar muito à vontade com a prole de Ares, achou a ideia de lutar contra o animal formidável.
— Pode soltar.
O semideus de Ares soltou o animal e o conduziu até uma área da arena onde os outros campistas não estavam presentes e ela teria espaço. Murmurou um
você consegue ao sair e novamente Renee estava sozinha, agora com o animal a cercando, andando de um lado para outro.
Os olhos do cão pareciam prata líquida e a olhavam, famintos. Ele estava com a boca semiaberta e rosnava, soltando um pouco de baba com o ato. Renee então levou a mão ao cabo da espada, para sacá-la, porém, o cão saltou em cima dela para impedi-la de fazer tal coisa, acertando o braço que estava puxando a arma e jogando-a longe.
A prole de Hipnos sentiu-se no meio de uma tourada mas não era um touro, estava sem seu pano vermelho – a espada – e o animal a havia ferido. Revirou os olhos com a ideia e tentou, cautelosamente, aproximar-se da arma. O animal era esperto, não deixara e avançara novamente para cima da semideusa, agora, sem nada para defender-se.
O cão fincou seus dentes no ombro de Renee de forma que encaixaram perfeitamente na região, ficando pendurado enquanto ela se mexia para se libertar. Em vão. A dor estava dilacerando a mente da jovem, que, apenas queria voltar ao seu chalé para uma noite de sono. Mas, em um último momento, lembrou-se da flauta em seu bolso.
Com a mão livre – a outra estando embaixo do cão – retirou a flauta do bolso e pôs na boca, tocando algumas notas aleatórias. No início achou loucura: estar sendo atacada e tocar uma música apenas para deixar as coisas mais quentes. Mas, pôde perceber que, aos poucos, o cão estava soltando seu ombro, e, segundos depois, caiu no chão demasiadamente cambaleante.
Em um ato burro e de euforia, a garota retirou a flauta da boca para levar a mão até o ombro machucado dando, dessa forma, um mísero segundo para o cão recuperar-se da sensação de embriaguez. Quando a semideusa percebeu que ele se levantava olhou a sua volta de maneira rápida, a procura da espada.
Seu olhar e o do animal cruzaram o objeto ao mesmo tempo e ambos correram naquela direção sem hesitar. Mas, Renee estava mais próxima e conseguiu pegar a espada, virando-se a tempo de acertar uma das cabeças do animal…
A dor era vibrante, fazendo todos os músculos de seu corpo arderem como em brasa, sangue escorrendo pela boca e miolos através de suas orelhas. Os olhos prateados agora não passavam de uma pequena luz, fraca e prestes a se apagar. Seu corpo, pesado como chumbo, tentava afastar-se da semideusa mas ela o perseguia, não deixando que se afastasse. Ele também não conseguia...A cabeça caiu bem aos seus pés, tornando-se pó e o resto do animal se afastava dela, assombrado com a alucinação que acabara de ter. Renee sorriu e então desferiu um chute na cabeça restante, fazendo-o soltar um ganido de dor e cair no chão, amedrontado. Com a espada, novamente, ela perfurou o tórax do animal e a puxou até a cabeça restante, transformando-o em pó e dando ao animal um único pensamento:
dor.
A prole de Ares chegou novamente ao lado da jovem e tocou seu ombro.
— Mais cruel do que eu imaginava, mas, como eu disse, conseguiu. — O garoto sorriu e então disse, em tom brincalhão. — Mas se eu fosse você, voltaria ao chalé para tomar um banho. Ou nenhuma garota vai se aproximar até dezembro, no mínimo.
Embora a prole do deus da guerra fosse um completo babaca, Renee estava começando a gostar dele. Havia chegado no nível: babaca legal.
- Armas:
• Espada Oneírica – O filho de Hipnos pode escolher como o seu inimigo sofrerá caso entre em contato com a lâmina da espada. O inimigo pode ter uma boa visão de sua morte como se tudo não passasse de um sonho ou ele poderá cair em um pesadelo profundo.
• Flauta do sono – Olhos caídos, movimentos retardados, pronto. Seu inimigo só precisará de uma cama, mas a partir do momento que o belo som da flauta se extinguir seu inimigo volta a ativa, como se nada tivesse acontecido.