Fate
eyes blinded by the fog cannot see the truth
Os raios da manhã tocavam a pele alva da prole de Hades, que insistia em não dormir naquele dia. Sua mente ainda girava, entrava em túneis e desapareciam em turbilhões em cima de mármore. Da noite anterior, apenas flashes do que fez. Matou alguém, apareceu ensanguentada no meio da festa da Isabelle, sua melhor amiga, recebeu um tapa na cara de Hylla e contou a uma semideusa de nome Reyna que havia matado sua irmã a sangue frio. A princípio, esperava uma reação insana de Isabelle no instante que ela descobrisse que a problemática e genocida Brianna Dellannoy, ou até mesmo Brianna Eilander, como era seu nome de batismo, tinha causado um pavor nos convidados. Ao invés disso, se deparou com Isabelle preocupada com Elijah, um homem qualquer que não acrescentava na vida da prole de Hades.
Esfregou os olhos cansada. Cansada fisicamente, espiritualmente, mas principalmente mentalmente. Bria sentia sua energia vital sendo sugada a todo instante quando se recorda do que passou na região inóspita holandesa de Rusty Lake, das extrações das memórias, e do ato de insanidade que lhe acometeu ao exterminar de vez sua família mortal. Agora sozinha no mundo, pela primeira vez não sabia como retomar sua vida.
- Eu já ouvi, James. - Bria respondeu de forma ríspida. Ainda não tinha saído da cama aonde estava sentada. A sua cama na mansão das mênades. O sol brilhou em seus olhos heterocromáticos de novo, como se dissesse para ir enfrentar logo seus demônios.
"Você nos pertence agora."
Bebeu um gole de vinho que sobrara em uma taça e sentiu sua energia voltar por um milésimo de um segundo. A bebida não era como os cigarros que lhe fazia falta. Bebia apenas por mera formalidade e para se manter viva. Ouviu novamente o comunicado de que Isa queria vê-la e se controlou para não arremessar na porta a taça de vinho que usava.
Ergueu o corpo da cama e olhou a vista que a mansão lhe proporcionava. Era uma bela manhã. Uma ótima manhã.
Uma bela manhã para enfrentar a culpa.
Desceu as escadas descalça, como sempre fizera. Sentir o piso em seus pés lhe tranquilizava, mesmo sentindo que o outro lado não estava nada em paz. Afinal de contas, quem ficaria bem com uma homicida em sua festa de aniversário toda ensanguentada? Os passos eram silenciosos como os de um felino pronto para caçar, porém estava completamente desarmada diante da cara irritada de Isabelle. Toda a imponência e autoridade que a semideusa da Guerra tinha estava direcionada a apenas uma pessoa: Brianna.
- Oi, Isa. - Seu olhar era de completa inocência, mas vazio de qualquer brilho de vida. Parecia um cadáver com movimentos. Suas mãos trêmulas seguraram o recosto da cadeira próxima da Duchanne e a puxou antes de se sentar: - Hm... Feliz aniversário, não? Ou estou um pouco atrasada para isso? - Seu questionamento não era embargado de cinismo, como seria normalmente, mas sim de confusão total com o tempo: - Porque insistiu no café da manhã comigo? Não sou uma boa pessoa pela manhã. -Comentou, pegando uma uva.