Different Half-Blood
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Ter 17 Nov 2020 - 13:04Adrien Agreste
Seg 9 Nov 2020 - 19:27Zeus
Sáb 7 Nov 2020 - 22:03Nyx
Seg 2 Nov 2020 - 14:04Abbey Arsenault Barrière
Seg 2 Nov 2020 - 2:03Marinette Dupain-Cheng
Qui 29 Out 2020 - 0:30Alfonso Castillo
Qua 28 Out 2020 - 18:57Zeus
Ter 27 Out 2020 - 22:53Zoey Montgomery
Sex 23 Out 2020 - 17:54Kiernan Poisson Smith
Qui 22 Out 2020 - 12:15Poseidon
Sáb 17 Out 2020 - 18:51Arissa
Qui 15 Out 2020 - 22:16Ulrick Waldorf Versace
Qui 15 Out 2020 - 13:06Nov R. Daskov
Qua 14 Out 2020 - 23:53Lilac Song
Sáb 10 Out 2020 - 10:29Hylla K. Werstonem
Qua 7 Out 2020 - 21:38Poseidon
Qua 7 Out 2020 - 12:21Castiel Delacour
Ter 6 Out 2020 - 15:04Poseidon
Seg 5 Out 2020 - 17:47Poseidon
Sáb 3 Out 2020 - 17:11Audrey Scarlett R. Carter
Qua 30 Set 2020 - 15:31Éolo
Qua 30 Set 2020 - 10:30Michael Biscatelli
Ter 29 Set 2020 - 21:54Todoroki Ria
Seg 28 Set 2020 - 18:32Reyna K. Mavros
Dom 27 Set 2020 - 17:27Éolo
Seg 24 Ago 2020 - 20:42Lissa
Qui 21 Nov 2019 - 17:37Isabelle Duchanne
Sáb 12 Out 2019 - 21:35Brianna W. Dellannoy
Qua 4 Set 2019 - 14:31Reyna K. Mavros
Qui 8 Ago 2019 - 20:47Emily Duchanne
Sáb 6 Abr 2019 - 16:07Eros
Qua 3 Abr 2019 - 20:44Lissa
Dom 31 Mar 2019 - 14:29Alex R. Fabbri
Sáb 30 Mar 2019 - 11:53Poseidon
Sáb 30 Mar 2019 - 1:49Bree Wolffenbuetell
Sex 29 Mar 2019 - 19:48Jacob Ackerman
Qui 28 Mar 2019 - 20:04Zeus
Qui 21 Mar 2019 - 15:00Luka S. Sinnoh
Seg 28 Jan 2019 - 22:07Eros
Seg 21 Jan 2019 - 16:41Zeus
Seg 7 Jan 2019 - 23:22Brianna W. Dellannoy
Dom 6 Jan 2019 - 1:33Melinda Äderbatch
Sáb 5 Jan 2019 - 0:10Zoey Montgomery
Qui 3 Jan 2019 - 18:46Ivy La Faye
Qui 3 Jan 2019 - 18:38Ivy La Faye
Qui 3 Jan 2019 - 18:26Ivy La Faye
Seg 31 Dez 2018 - 13:38Eros
Sex 16 Nov 2018 - 12:43Sebastian V. Woljöden
Dom 12 Ago 2018 - 14:20Sasha Ivanovna
Qua 1 Ago 2018 - 17:46Zeus
Seg 30 Jul 2018 - 9:39Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 19:28Sebastian V. Woljöden
Qui 26 Jul 2018 - 12:37Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 12:36Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 12:35Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 12:32Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 12:30Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 12:28Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 12:28Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 12:25Nyx
Qui 26 Jul 2018 - 9:15Nyx
Qua 25 Jul 2018 - 11:50Johan Maximoff
Seg 16 Jul 2018 - 23:41Alexa Watts Schratter
Ter 5 Jun 2018 - 1:26Adam Phantomhive
Sáb 17 Mar 2018 - 23:08Astera C. Morgenstern
Sex 16 Fev 2018 - 15:14Frâncio R. Lehner
Seg 8 Jan 2018 - 23:40Hannah Daphné Roux
Seg 8 Jan 2018 - 23:03Ivy La Faye
Qui 4 Jan 2018 - 13:47Genevieve Lim
Qua 3 Jan 2018 - 22:21Reyna K. Mavros
Qua 3 Jan 2018 - 20:23Lucifer Fuuzuki
Qua 3 Jan 2018 - 18:54Anko Utakata
Qua 3 Jan 2018 - 17:20Ariel Wröstch
Qua 3 Jan 2018 - 15:30Michael Biscatelli
Sex 29 Dez 2017 - 9:34Frâncio R. Lehner
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BIRMINGHAM
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Treino Mensal
O Teste de Coragem


O New York-Presbyterian Hospital receberia visitas naquela noite.

Em frente às portas de vidro, sob o teto de igual material, Zoey podia ver muito bem as estrelas que iam surgindo no céu de acordo o crepúsculo se aproximava, o sol dando adeus e a lua surgindo no horizonte. Seria uma longuíssima noite para ela e para os semideuses que iriam até ali, mas a jovem Montgomery queria fazer uma boa ação pelo menos uma vez em sua vida, então tratou diretamente com Minerva Knight, uma das médicas do hospital. 

Aos poucos os convocados se aproximavam: feiticeiros, caçadoras, mênades e curandeiros. O grupo seria um pouco maior, mas pelo que lhe fora comunicado não haveria problema nenhum com aquilo, já que a aula com semideuses estava com falta de pessoal. 

— Bem vindos, meus queridos. — sorriu cansada, como se aquelas simples palavras tivessem retirado todo o poder de seu corpo. De certa forma não era mentira, passou muitas noites sem conseguir dormir direito (fato comprovado pelos bolsões arroxeados sob os olhos). — Hoje vou pegar leve com vocês, pois não estou em minhas melhores condições, físicas e mentais. — riu com graça. Bem, ela havia perdido dez quilos, então não seria difícil derrubá-la. — Mas vamos aos negócios. O treino de hoje é bem simples: vamos ajudar na ala dos semideuses no hospital. 

A feiticeira suspirou com pesar, mas manteve o sorriso gentil nos lábios.

— Existem algumas regras a serem seguidas, claro. A primeira delas é que devem sempre responder à Minerva Knight, a curandeira mestre. Vou apresentá-los quando entrarmos. — continuou, observando todos os semideuses ali. — A segunda é que não devem incomodar os pacientes de forma alguma: se algum deles recusar vocês, não insistam. A terceira e mais importante: fiquem longe de duas áreas, a ala psiquiátrica e a ala de infectologia. Não vou me responsabilizar caso peguem alguma doença infectocontagiosa. Receberão os equipamentos necessários, então não se preocupem.

Após chamar para que entrassem, Montgomery conduziu o grupo para a ala leste onde a amiga lhe esperava.

— Zoey querida. Por aqui. — no auge de seus trinta e sete anos, Minerva usava roupas brancas e um jaleco com seu nome em grego. Nos pés, um tênis de igual tom à roupa. — Precisa dormir melhor, está se alimentando direito? 

— Estou bem. — a loira sorriu e cumprimentou a médica sem abraços. Voltou-se, então, na direção do grupo. — Esta é a doutora Minerva, Clínica Geral e médica responsável pela área dos semideuses. Devem reportar a ela qualquer coisa sobre os pacientes, e a mim qualquer coisa que precisarem. Estarei com o senhor Elias, um veterano de guerra, no quarto 405. Se quiserem ouvir uma boa história sobre aquela época, ele é um senhor lúcido e muito querido. Bem, vou deixá-los. Boa sorte.

E, após aquelas palavras, a líder dos feiticeiros cambaleou para seu destino, querendo mais do que tudo sentar-se àquela poltrona confortável e dormir enquanto escutava o homem lhe contar histórias sobre a Segunda Guerra.

Diretrizes:
Informações Importantes:

Adendos importantes:
— Local: New York-Presbyterian Hospital, Nova York;
— Horário de Início: 19h30min;
— Horário de Término: 08h00min;
— Poderes ao final do texto em spoiler. Por gentileza, não usar o "considerar poderes até nível x", pois não vou considerar nenhum se alguém fizer isso;
— Sem armas, por favor. Estamos em um hospital.
— Prazo: Até dia 30/10.
— Em caso de dúvidas ou qualquer esclarecimento, sintam-se livres para me mandar uma MP ou me chamar no Whatsapp, para quem tiver meu número.
— Boa sorte a todos, e que os deuses estejam com vocês.

Zoey Montgomery
Feiticeiros de Circe
Zoey Montgomery

lúrido;



“Os filhos herdam as loucuras dos pais.”

— Gabriel García Márquez, Cem anos de solidão.



Hylla descobrira com certo amargor que o silêncio era um algoz na mesma proporção que também servia como aliado.

Naquele momento, com os antebraços apoiados no parapeito da varanda, ela tentava decidir em qual daqueles dois espectros a quietude se encaixava. Não permitia-se o silêncio absoluto, pois sabia que nele encontrava pensamentos funestos e conflituosos que impediam-na de dormir quando a noite caía. Tampouco preferia a cacofonia, uma vez que não conseguia raciocinar com a desordem sonora. Daquele modo, imaginava-se flutuando entre ambos os extremos — o barulho e a calmaria — como um fantasma desvirtuado.

Mesmo tendo passado algum tempo longe de Nova York, nenhuma mudança significativa na cidade podia ser vista. Isso a deixava levemente conformada, como se a falta de alterações fosse uma validação de que ela, Hylla, permanecia no mesmo ritmo do restante do mundo. Exceto pelo fato, é claro, que diferente da cidade, ela havia mudado.

Estaria a dinamarquesa pronta para encarar aquela sua nova face?

Permaneceria em pensamentos desconexos a tarde inteira se um suave tremeluzir no ar ao seu lado não houvesse chamado sua atenção; os olhos glaucos dela foram tragados ao centro de uma névoa rodopiante que, como uma janela na realidade, mostrou-lhe um outro alguém tal qual um holograma. Zoey.

O chamamento da líder de sua Ordem acendeu uma chama no interior de Hyl — uma espécie de fogo que induziu a morena a, ao terminar da mensagem, procurar um casaco no apartamento pequeno. Assim que o encontrou, vestiu-o imediatamente e catou alguns dracmas da bolsa de couro que costumeiramente trazia consigo. Pegou uma pequena quantia, a qual já era mais do que suficiente. Quando saiu do edifício atarracado no subúrbio, bastou lançar a moeda dourada e antiga no chão e recitar um cântico funesto para que a Carruagem da Danação surgisse mediante seus olhos:

— New York Presbyterian Hospital.



[...]



A frieza alva do hospital não incomodava Hyl. Na verdade, havia algo confortável nas entranhas álgidas de construções como aquela que a filha de Melinoe apreciava; talvez fosse a atmosfera em si, ou a sensação constante de libertação — não saberia dizer.

Sua única afirmativa era que os Feiticeiros se reuniriam ali naquela noite sob a égide de Montgomery. Após as instruções da loira, um respiro profundo abandonou os lábios da jovem e ela limitou-se a, em silêncio, vagar pelos corredores como um fantasma. Viva por mais de quinhentos anos naquela forma mundana, Werstonem contava com um par de olhos que haviam visto inúmeras coisas. Mesmo assim, situações relacionadas à proteção de terceiros ou cuidados para com eles deixavam-na indiscutivelmente… carregada.

Ela não soube exatamente em que momento parou de andar, mas ali estava: as costas apoiadas na pintura branca da parede, como se seu corpo buscasse um descanso. Não sentia nenhum sintoma de cansaço, contudo, mas o coração estava acelerado como se houvesse corrido uma maratona. Inspirou profundamente.

— Você está bem? — Alguém perguntou, assustando-a. — Desculpe, eu não quis...

— Não tem problema. — Respondeu, interrompendo-o. A nova silhueta era menor que ela, ainda que com certeza mais altiva que a própria semideusa. Tinha olhos azulados como os seus, porém em um tom esmaecido e desprovido da sedução mágica das íris de Hyl. Tinha também uma camisola branca do hospital em questão, e trazia consigo uma haste metálica com um soro preso a ela. — Você tem permissão para andar por aqui sozinho?

— Não oficialmente — um sorriso iluminou a face dele. — Mas ninguém me proibiu, então…

— Oh, entendo.

Hylla aproximou-se apenas um pouco, de modo que pôde ler o que estava escrito no cartão de identificação colado à camisola do garoto: Hunter.

— Por que está aqui? — Ele indagou, a sobrancelha erguida. — Não lembro de você ser funcionária do hospital.

— Você é esperto, não é? — Um sorriso teimou em aparecer nos lábios bonitos da bruxa. Suspirou, abaixando-se na frente do garoto. — Eu estarei aqui só por essa noite — “Eu espero, pelo menos” — É um serviço especial.

— Tipo um serviço de entregas?

— Não. — Hylla sorriu. Pousou a mão sobre o ombro do garoto e o afagou; Hunter tinha a cabeça lisa, como se seu cabelo houvesse caído. O catéter intravenoso permanecia injetando soro em sua corrente sanguínea. Mesmo ela, viva há mais de séculos, não era tão guerreira quanto o jovem paciente. — Está tarde, é melhor voltar ao seu quarto.

— Certo — notou um resquício de desapontamento. Não podia julgá-lo; a morena sabia o quão angustiante era ter sua vida resumida a quatro paredes. Ela prontamente se disponibilizou a ir com ele, estendendo a mão para que a criança segurasse. Entrelaçaram os dedos, ela agindo como uma irmã mais velha, guiando-o pelo caminho branco até a ala dos quartos. — É aquele.

Entraram e assim como ela suspeitava, nada havia além de uma cama próxima à janela. Foi Hyl quem acomodou Hunt na cama, fazendo questão de comprimir os travesseiros para torná-los mais aconchegantes. Quando ele se deitou, ela sentou-se na poltrona ao lado dele.

— Seus pais não vêm visitar você? — Murmurou, curiosa. Notou uma sombra de tristeza cruzar os olhos do garoto.

— O meu pai vem todos os dias, mas ele é um homem ocupado — justificou, protelando palavras cuja procedência ela sabia não ser verdadeira. Sabia que ele estava magoado. Os olhos claros do menino retornaram à Hyl: — Ele não passa muito tempo, de qualquer forma.

— E a sua mãe?

— Ela 'tá no céu. — “Oh”. Um silêncio estranho pairou entre ambos.

— Eu também não tenho mãe — ela confidenciou. — Mas já me acostumei.

— É — falou, sem muita convicção daquilo. — Você pode brincar um pouco comigo antes de ir? Não precisa ser por muito tempo.

— Claro.



[...]




Quando abandonou o recinto, Hylla constatou que Hunter dormia.

A semideusa parou por alguns segundos, respirando profundamente o ar pacífico do corredor vazio. Luzes intercaladas em espaços iguais no teto tornavam tudo claro e ofuscante, exceto por alguns pontos de escuridão quase inexistentes. Pelo canto do olho, captou um movimento ondulante que a fez olhar naquela direção: nada além de uma aura, um tremeluzir azulado que se perdia em suas próprias curvas.

Decidiu segui-la.

Viu-se em outro corredor posteriormente, e o espectro permanecia em um movimento contínuo, como se estivesse tão sem rumo quanto a dona dos olhos azuis.

— Um fantasma — disse alguém atrás dela. — Mas creio que você já saiba disso. Estou certa?

Hylla virou-se, deparando-se com uma garota de jaleco e cabelos presos. No vestuário, uma insígnia de Asclépio.

— Não esperava vê-la aqui, Hylla — salientou. — Mas já que veio, bem vinda.

— Eram pacientes?

— O que?

Os fantasmas — repetiu. — Eram pacientes internados aqui?

Lisa deu de ombros, um suspiro escapulindo pelos lábios entreabertos. Por alguns segundos, ambas as semideusas não trocaram nenhuma palavra.

— Imaginei que fossem. — Concluiu. — Mas estão inquietos, mais do que o normal para um lugar como esse.

— É difícil compreender fantasmas, Werstonem. — A irmã a fez lembrar, atrelando à Hyl um estado de consciência além do senso comum. De fato, a sentença de Bocceli estava correta. Enfiou as mãos nos bolsos do casaco: — Gostaria de sentar e conversar, conhecê-la melhor antes que você suma novamente, mas tenho trabalho a fazer. Podemos tomar café juntas quando o plantão acabar, se você quiser.

Obrigada, não. — Hylla respondeu. Lisa novamente deu de ombros (e o fazia de uma maneira tão irritante que fez a dinamarquesa mudar o peso de um pé para o outro), saindo em sequência do lugar. Bastou que a curandeira desse as costas para que as íris ávidas da morena retornassem à procura do espectro, não demorando para localizar sua forma nebulosa próximo à dobra de outro corredor.

A semideusa estava familiarizada aos mortos. Na verdade, com tantos anos viva, aprendera que a melhor companhia era advinda dos póstumos. Deixara de temer os espíritos e tudo que eles representavam havia muito tempo, mas sempre restava aquela curiosidade inerente em descobrir quem eram — e o que queriam — quando a morena encontrava novas almas vagantes.

Uma prece escapuliu de seus lábios, ensinada por Circe há muito tempo.

Uma prece de proteção.

Revele-se — sussurrou a bruxa, sabendo que seria ouvida pela criatura. O que anteriormente era uma figura abstrata, sem forma concreta, passou a se expandir em um tremeluzir profano até assumir a forma de um garoto. Parecia mais velho que Hunter apenas alguns anos, mas seu aspecto doentio era doloroso de ser visto.

— Consegue me ver?

— Consigo até mesmo senti-lo — ela segredou. — É um dom para poucos.

— Não parece um dom muito agradável — o fantasma falou, incitando um riso indecifrável que iluminou momentaneamente o rosto de Hylla antes de apagar-se tão rapidamente quanto tivera início. — Afinal, qual a graça de se brincar com fantasmas?

A filha de Melinoe riu fracamente.

— Não se brinca com fantasmas. — Ela advertiu. Mesmo para alguém com suas capacidades, Werstonem aprendera com os anos que mesmo os espíritos eram criaturas traiçoeiras: levavam consigo suas loucuras pessoais de seus tempos enquanto vivos.

E desejos frustrados, ela bem sabia, eram a liga perfeita para o combustível do mal.

— Brincar… — murmurou a palavra, perdido, como se ela fosse algo que lhe imprimisse uma memória da qual não conseguia recordar-se por completo.

— Imagino que deva ter perdido a lembrança desse ato — ela falou. — Sinto muito por você.

— Você pode me libertar?

— Oh, querido — a semideusa aproximou-se alguns passos. — Por meio de um feitiço, sim. Mas isso é tão complexo; eu teria que saber em que solo se sustenta esse hospital, encontrar todos que aqui estão presos, executar um ritual que provavelmente me deixaria exaurida por dias… Bom, posso ajudá-lo individualmente. Você sabe o que sente?

— Medo.

— De quê?

— De quem — o morto corrigiu.

— O seu assassino, presumo. — O silêncio que se seguiu foi uma afirmativa. — Ele ainda está aqui no hospital?

A criatura póstuma assentiu.

— Você pode me levar até onde ele está?

Aquela pergunta foi o suficiente para fazer toda a forma do espectro perder-se momentaneamente. Ainda estava traumatizado, e sua inconstância podia colocar o plano da feiticeira em risco.

— Tudo bem — apressou-se. — Poderia me dizer onde você…? — Deixou pairar entre eles a palavra “morreu”.

— Frio. Escuro. Lá embaixo. — Esforçou-se para lembrar-se. — Ala psiquiátrica. Letras vermelhas. Olhos maus. Dentes. E a morte.

— Obrigada.

— Ei, você — chamou quando ela distanciou-se pelo corredor. Parecia mais frio, Hylla fechou o zíper do casaco até o pescoço. Cercada pelo couro preto, sentiu-se um pouco melhor. Não muito, só um pouco. — Qual é o meu nome?

— Você não tem nome. — Bruta, quase ríspida, ainda que sua voz fosse doce. Assim foi a resposta de Hyl. Perdera a compaixão pela maioria dos fantasmas havia séculos, ainda que a situação do garoto lhe fosse desgastante. Melancólica, ela diria. — Você esqueceu seu nome; alguns de vocês, espíritos, acabam esquecendo. E sem suas identidades, tornam-se apenas reflexos do que já foram um dia. O que eu farei a seguir não irá trazer seu nome de volta, tampouco recobrar o ar de seus pulmões…

Foi até o elevador mais próximo e apertou o botão.

— Mas pode lhe trazer um pouco de conforto — as portas se abriram. Entrou. Apertou no botão que levava a outro nível, imaginando seu próximo destino. — E assim talvez eu possa evitar que outra criança termine como você.



[...]



Os olhos azuis da dinamarquesa passearam no breu por alguns instantes.

Estava em um ponto mais afastado, muito abaixo do que lhe era permitido, mas para alguém com o seu histórico e com sua vida tão conturbada, estar onde era proibido tornara-se quase rotineiro para Hylla. A primeira coisa que notou foi uma placa de letras vermelhas sobre o corredor extenso: ala psiquiátrica.

A semideusa avançou alguns passos, ouvindo o som deles ecoar pelas paredes verticais e lúridas daquele ambiente. Estava terrivelmente frio.

— Senhorita? — Além do som de suas botas, a voz de outro alguém também ganhou novas proporções. Werstonem detectou alguém: um funcionário trajando o vestuário hospitalar completo caminhava até ela, a sobrancelha erguida sem entender o motivo de a garota estar naquele espaço restrito. — Essa ala é liberada somente ao pessoal autorizado.

— Eu acho que acabei me perdendo, senhor — “Vamos Hyl, pense em algo”. — Não sei o caminho para voltar. Pode me ajudar?

— Você pode voltar pelo mesmo caminho que veio. — Ele resmungou.

Cerrou os punhos. Hylla podia ser esguia e delicada, mas seu treinamento como semideusa havia lhe ensinado que mesmo um oponente de seu porte físico poderia ser perigoso. Werstonem sempre tinha a vantagem do ataque surpresa, vide que poucos oponentes viam nela uma inimiga em potencial. Por isso, com um golpe rápido, acertou a garganta do funcionário.

Ele engasgou, tossindo copiosamente enquanto procurava por ar.

— Me desculpe. — Murmurou uma última vez antes de ele desfalecer. Apressou-se pelo corredor, vasculhando as salas com portas seladas onde pacientes dormiam sob os efeitos de potentes remédios. Estar em um lugar como aquele, cheio de dor e angústia, fazia com que a garota quisesse se encolher.

Era como se a atmosfera daquele lugar a fizesse… desaparecer.

Conforme andava, a dinamarquesa perdera a noção do tempo. A escuridão da ala mal iluminada dava vida aos pensamentos transversais da necromante; podia jurar ver movimentos anômalos em danças frenéticas mediante ela. Sombras ancestrais, fantasmas que Werstonem mantinha em suas covas por séculos.

— Por que você continua avançando se está sentindo o perigo? — O sussurro chegou até Hyl sem causar nela qualquer arrepio. — É como se estivesse procurando a morte.

Hoje não — murmurou, sem olhar para o espírito. Já sabia quem era. — O que está fazendo aqui?

— Se você morrer — Ágatha falou. — Eu quero estar aqui para ver pelo melhor ângulo.

Bastou uma palavra de Hylla para que ela a expulsasse; não definitivamente, é claro. De algum modo, a bruxa gostava da tortura psicológica imposta por Ágatha.

Fazia-se sentir-se como se estivesse pagando por uma fração de seus pecados.

Ainda perdida em suas próprias divagações, pensou ter ouvido algo. Tentou escutar melhor, mas os sons eram nada mais que suspiros — ou sussurros. Logo a menina se viu próxima a uma porta entreaberta, a qual encobria uma sala escura e espaçosa no hospital. Adentrou-a, aquele som que outrora a instigava tornando-se mais forte.

Piscou algumas vezes, discernindo silhuetas de móveis na escuridão. Notou algo abaixado em um dos cantos, abraçando os próprios joelhos junto ao corpo. Seria um fantasma? Pensou que sim, uma vez que projetava lamúrias que a garota não conseguia entender; mas não tinha a energia espectral, o que a deixava apreensiva. Fantasmas, em sua maioria, Hylla conseguia controlar. Já vivos, não.

— O que você está fazendo aqui? — Hyl perguntou, fugindo de qualquer tom acusatório pois ela mesma era uma intrusa naquele lugar. Aproximou-se um pouco mais, estendendo a mão para tocar na pessoa encolhida em um dos cantos quando a face de outrem a observou de volta. Antes que qualquer raciocínio cruzasse a mente de Werstonem, as mãos que outrora abraçavam o próprio corpo do desconhecido voaram contra a garganta suave e esquálida da semideusa.

Dedos férreos fecharam-se ao seu redor, e uma expressão bestial apoderou-se do rosto humano daquele que a contemplava: um homem. Mas seria realmente um ser humano?

Ela já sabia a resposta.

Tanto o sabia que seu único movimento foi automático; levantara o joelho contra outrem, acertando-o de tal modo a afastá-lo de si. Hyl tossiu momentaneamente, recuperando-se daquele impacto inicial de sufocamento. Não pôde demorar muito, o inimigo voltara a atacar.

Dessa vez, o treinamento combativo da feiticeira estava de volta em sua memória muscular para que ela se defendesse. Girou o corpo como em uma dança esquivando-se quando o homem tentou agarrá-la, evitando-o como um toureiro — no momento seguinte, tinha uma visão privilegiada das costas do oponente.

Foi ali que chutou: mais precisamente em um ponto na base de sua coluna, fazendo-o grunhir e cambalear, segurando-se na parede. A garota avançou, mas o adversário girou e acertou-a no rosto com as costas da mão, fazendo-a afastar-se novamente.

Werstonem desejou possuir uma de suas armas agora; qualquer que fosse. Sem elas, sentia-se nua. Todavia, sabia que naquela situação ter qualquer equipamento estava fora de cogitação. Seria necessário usar tudo aquilo que aprendera no decorrer dos séculos e, é claro, seus dons divinos.

Quando o homem avançou novamente, a menina esquivou-se de seu soco abaixando-se. Ao subir, atingiu-o com o punho cerrado na garganta — como fizera com o outro funcionário anteriormente —, mas dessa vez o inimigo apenas engasgou. Isso deu a ela um fio de tempo para chutá-lo no peito, derrubando-o.

— Está com problemas? — Ágatha sussurrou, ainda invisível, sem revelar sua presença ou sua localização por completo.

— Calada — murmurou, os dentes cerrados. — Ele continua lutando, mas deveria estar incapacitado. Como eu o derroto?

— Por que eu deveria dizer a você? — O espectro perguntou.

— Se não o fizer — Hylla observava com cautela enquanto o êmulo gradativamente se colocava de pé. — Eu vou banir você. Quer ficar presa no Hades por toda a eternidade? Não? Bom. A escolha é sua.

Abaixou-se, dando uma rasteira no homem assim que ele se estabeleceu de pé, derrubando-o novamente. Chutou a cabeça dele contra o chão, mas até mesmo esse ataque que teria nocauteado um lutador não pareceu surtir um efeito prolongado no oponente.

— Nuca, querida. — Mesmo contrariado, o fantasma vitoriano respondeu.

Antes que ele se levantasse, Hyl empurrou-o com outro chute de tal modo a fazer o corpo desfalecido e grogue rolar, as costas para cima dessa vez. Com um único movimento, a bruxa deixou-se cair sobre ele, o joelho amassando os ossos sensíveis da nuca do oponente em um golpe rápido e fulminante. Ouviu os estalos correspondentes, e o corpo não mais se moveu.

Em um canto, Ágatha a olhava com ódio.

— Obrigada — respondeu a viva, um sorriso a brincar em seus lábios.



[...]



A luz esbranquiçada dos raios solares entrava pelas janelas do New York Presbyterian Hospital. Hylla passou por um halo leitoso, e o calor dos fótons a reconfortou após aquela noite.

— Eu não sei o que era. — Finalizou a dinamarquesa, mantendo a voz baixa para Zoey a fim de não incomodar o paciente do qual a loira cuidava. — Era forte, e mesmo algumas técnicas não foram eficazes contra ele. Tinha a forma humana, assumiu um fenótipo masculino.

Abraçou a si mesma, agradecendo o calor proporcionado pelo casaco.

— Ala psiquiátrica — disse, por fim. — Foi lá que aconteceu. Você se importa se eu sair? Eu não gosto desse lugar.

Despediu-se de Zoey; o plantão estava em seu fim. Enquanto caminhava pelos corredores desprovidos de cor do hospital, Werstonem ansiava por deixar aquela atmosfera para trás. Não tinha um rumo certo ao cruzar as portas, mas não demorou para que a garota de cabelos pretos e frios olhos azulados se misturasse em Nova York.


Abre aqui:

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Hylla K. Werstonem
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