Alfonso observava enquanto outros campistas irrequietos conversavam sobre como seria a tarefa. Todos os meses um monitor de chalé organizava um treino geral para todos os semideuses, como uma forma de preparação para os reais atos heroicos, assim, nada mais seria surpreendente.
Enquanto explicavam qual seria a tarefa, o semideus não conseguia deixar de cutucar nervosamente o couro que ficava na base de sua adaga de bronze celestial, qual lhe foi fornecida assim que chegou no chalé de Hermes, antes de ser reclamado por Afrodite. Essa adaga era uma companheira fiel, considerando o fato de que conseguiu alguns privilégios no chalé onze apenas apontando ela e dando alguns sorrisos. Seu carisma era algo inegável, mas nada vinha fácil sem um pouco de medo envolvido.
Alfonso não era novato no que se referia à escaladas, considerando que regularmente havia atendido a arena do Acampamento Meio-Sangue, mas a tarefa explicada era um tanto fora da casinha. O
treino era literalmente ir ao inferno e voltar. Enquanto encarava outros campistas tentando escalar uma parede que além de soltar lava, como também fazia brotar espinhos extremamente perigosos que poderiam matá-los ali mesmo. Eles precisavam escalar até a superfície em vinte minutos ou menos.
Enquanto estava envolto em seus pensamentos, Alfonso ouviu Isabelle, do chalé cinco, gritar seu nome. Ele a achava meio agressiva às vezes, mas sabia que aquilo era apenas parte do charme da conselheira. O filho de Afrodite caminhou até a base da parede, que em nada contrastava com o cenário mórbido do mundo inferior. Ele não tinha ideia se estava nos domínios de Hades mesmo ou se era apenas uma ilusão mágica, muito comum no divino. Olhando pra cima, encarou seu desafio. Enquanto não tocasse na parede, a lava não cairia para lhe machucar. Mas ele deveria começar logo, terminar a tarefa independente do que acontecesse.
2min
Alfonso ainda não tinha conseguido ir mais além da base da parede de escalada, tentava fielmente desviar de pingos longos de líquido fervente que caía sobre si. O suor escorria por sua testa enquanto ele buscava o vão mais próximo para se agarrar e impulsionar para cima. Enquanto ele fazia a tarefa, se colocou a imaginar se ser um semideus seria resumido a quase morrer em lugares onde parecia ser seguro. Não muito longe de si, conseguiu ver outros dois irmãos do seu chalé lutando para realizar a tarefa. Ao longe, o rapaz ouviu alguém gritar:
- Vamos lá belezinhas. - Era um claro tom de deboche. Os outros campistas costumavam debochar e subestimar os filhos de Afrodite, como se tudo para que eles servissem fosse para pentear cabelos e serem bonitos. Alfonso não gostava dessa fama, é claro, ele era lindo, mas sua realidade individual e de seus irmãos era mais complicada.
Enquanto subia, uma gota de suor escorreu até seu olho, o fazendo arder. Foi quando, um pouco cego, Alfonso agarrou a primeira coisa que alcançou, mas infelizmente era um graveto frágil que quebrou assim que tocou. Felizmente ainda não havia tido tempo de apoiar seu peso para subir. Aquela não seria uma tarefa fácil.
7min
Faziam poucos minutos que Alfonso havia iniciado o treino geral dos campistas, tempo o suficiente para o semideus trocar o nome da tarefa. Aquilo mais parecia um castigo. O rapaz não tinha uma corda de apoio, portanto, se caísse, claramente no dia seguinte estaria bebendo néctar na enfermaria, oferecido por qualquer bela ninfa.
O filho de Afrodite agarrou outro vão para subir, enquanto tentava encaixar seu pé esquerdo numa rocha protuberante na parede. Naquele dia, usava coturnos altos, o que facilitava para si conseguir apoiar os pés em qualquer local, mesmo quente. De repente, um um feixo de lava respingou logo ao seu lado, fazendo queimar em seu pescoço. A dor era torturante, mas Castillo não poderia se dar por vencido. Agarrou outro vão com sua mão esquerda, enquanto utilizava a direita para limpar o suor. visando que não escorresse mais em seus olhos. Olhando para cima, viu que ainda possuía um longo caminho pela frente.
17min
Ele estava quase lá. Podia ver outros campistas encarando aqueles que ainda tentavam realizar o treino. Seus irmãos estavam um pouco abaixo, lutando contra os espinhos. Alfonso havia se desvencilhado deles a pouco, tendo ganhado de herança um corte profundo em seu braço, que naquele momento já estava parando de sangrar. Queimado, cortado, cansado. O Acampamento Meio-Sangue não era para gente fraca.
Apoiando a perna direita no vão que anteriormente tinha servido para que ele se queimasse com lava, o semideus agarrou uma hera, que quase instantaneamente fez sua pele começar a coçar. Aquilo foi suficiente para que Alfonso pegasse impulso para subir. Agindo rapidamente, o rapaz agarrou-se em uma rocha quente, que quebrou em seus dedos, deixando-o suspenso, agarrado na hera. O filho de Afrodite girou, ficando de costas para o paredão. Naquele momento já era tarde para cair, ele teria uma das lesões mais sérias de sua vida. Não era uma opção fracassar naquela altura do campeonato.
Alfonso girou outra vez, buscando o objeto sólido mais próximo para se apoiar. Segurando-se em um vão, o semideus impulsionou para cima, conseguindo, finalmente, agarrar a linha de chegada com a mão direita. Com toda a força que restava, puxou a si mesmo para cima, enfim, finalizando o pior castigo que já tinha tido.
- Arma que carregava:
- Adaga de bronze celestial.