A cama estava intacta, nenhum amassado, Isabelle estava sentada na poltrona, olhando pela janela o sol nascer, mais uma noite que não havia conseguido dormir. Ficava relembrando dos horríveis momentos que passou, o desespero, a raiva, o ódio e a solidão. Não se arrependia de ter ido, apenas queria que as coisas fossem mais fáceis, mas no fundo sabia que nunca iriam ser.
Desceu as escadas enquanto amarrava o roupão, James estava na sala lendo o jornal, Isa passou silenciosamente pelo homem, não queria dar trabalho para ele. Na verdade, estava esperando o momento certo para falar que ele tinha que se aposentar. James servia as Duchanne faziam mais de 30 anos, embora fosse um mortal que via através da névoa, já estava velho, não tinha mais condições de se envolver nos assuntos do mundo mitológico.
O salão já estava pronto, vazio, apenas esperando pela noite e os convidados que chegariam com ela. A mênade foi até os instrumentos musicais, estavam ali para a orquestra e o DJ, percorreu com os dedos as teclas do piano. O som era um dos mais agradáveis, sentou-se no banco e tentou lembrar-se das notas da música que, segundo Dems, era a favorita de Joanne.
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I was cheated by you, since you know when, so I made up my mind, it must come to an end. Look at me now, will I ever learn? – fez uma pequena pausa, conseguia finalmente entender o porquê daquela música –
I don’t know how but i suddenly lose control, there’s a fire within my soul... Just one look and I can hear a bell ring, one more look and I forget everything, ooh – olhou para as teclas, estava considerando cancelar aquele baile, encarou Kristhyne que havia entrado no salão –
Hey Kris, veio conferir se não esquecemos de nada?-
Na verdade, vim pedir ajuda, quero fazer uma surpresa para sua prima.A mênade olhou animada, será que finalmente Kris iria pedir Emily em casamento?
...
Fechou a porta do closet, sentou-se na poltrona e olhou para o reflexo no espelho, não envelhecia, continuava com aquela pele perfeita, mas os olhos eram os de quem já havia visto muita coisa. Uma hora iria ceder, deixar que a morte finalmente a alcançasse, mas isso iria demorar mais alguns anos, Isabelle ainda não tinha vivido tudo o que queria.
Retirou com calma os apliques do cabelo, deixou-os na penteadeira, tirou os pés das pantufas e colocou-os no chão, sentindo a textura do tapete. Abriu o roupão e deixou que ele caísse sozinho, olhou para o reflexo mais uma vez, como se fosse uma outra pessoa.
“Você não vai cancelar essa festa, vai ir até lá, comemorar mais um aniversário com os seus convidados, mesmo que eles tenham vindo só pela comida de graça” Riu abafadamente, ela também iria só pela comida. Levantou-se e foi até o banheiro, precisava tomar um longo banho naquela banheira.
...
É claro que Hylla tinha sido a primeira a chegar ali, deslumbrante ela veio em direção a Isabelle que, logo identificou o movimento da outra. Sentia como se fosse desabar e Hylla nem ao menos tinha entregado o presente, mas assim que o fez a morena encheu os olhos de lágrimas. Não sabia o que fazer com a loira, no ano passado fora uma limousine, nesse ano era um colar que continha os dois irmãos de Isabelle.
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Obrigado – agradeceu tentando não chorar, abraçou Hylla por um rápido momento, não conseguiu falar mais nada, não tinha palavras suficientes para agradece-la por aquele presente.
Mais um convidado chegava, Isa limpou as lágrimas rapidamente, não conhecia o semideus, mas tinha certeza que ele era novo por ali. Agradeceu pelo presente e assim que ele se afastou começou a se perguntar se estava enxergando bem, aquilo era um diamante?
Observou Poseidon chegar, ainda estava tentando entender como ele e Hylla tinham acabado juntos, mas estava feliz pela melhor amiga. E pensando em melhor amiga, lá estava ela. A loira mais gostosa do bairro, rainha do ensino médio, Helena. Isa havia mandado o convite, mas não esperava que ela fosse comparecer, não se falavam fazia tanto tempo. A filha de Poseidon fazia uma falta enorme na vida da morena, porém ela não iria se aproximar, deixaria que Helena tomasse o primeiro passo.
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Bran – sorriu ao enxergar o irmão de Ivy –
Você também está muito bem conservado.Agradeceu pelo presente e olhou para o salão, Ramonna havia chegado e estava com o... Namorado?
Isa pegou uma taça de vinho, foi até a mesa de doces e pegou uma minhoca ácida, aquilo era quase melhor que a bebida. Sentiu um aperto no coração, derrubou uma das balas no chão, mas encarou de novo para ter certeza, era ele, Elijah estava ali.
Primeira coisa que ela fez foi procurar uma saída, estava perto demais da entrada, se fosse por ali ele com certeza iria vê-la. Sussurrou alguns palavrões e olhou para a mesa, teve a infeliz ideia de ir para de baixo da mesa. A toalha cobria tudo, mas Isabelle deu um jeito de encontrar uma brecha por onde pudesse enxergar Elijah.
O irmão de Zoey parecia estar procurando algo ou alguém, Isa esperava que não fosse ela, mas ao mesmo tempo esperava que fosse. Não conseguia se decidir. Ficou ali em baixo por duas músicas, uma delas havia sido cantada por alguns convidados, o que deixou-a curiosa, queria ter assistido. Haviam causado vários gritinhos da plateia.
Enxergou um vestido marfim passar ao lado da mesa e sem querer acertou a dona dele, que abaixou-se e encarou Isabelle. Graças aos deuses, era Alicia.
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O que você está fazendo aí em baixo? – a prole de Hécate riu.
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Eu precisei, bem, me esconder, como estou? – perguntou preocupada, talvez tivesse borrado a maquiagem quando chorara, talvez tivesse sujado e amassado o vestido.
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Isa, você está deslumbrante, mas ninguém vai conseguir ver o quão maravilhosa você é se ficar de baixo da mesa.-
Você está certa – respirou fundo –
Está vendo aquele moreno sexy que parece a Zoey? Cuida pra ele não me ver saindo daqui. A mênade saiu e levantou-se dando leves batidinhas no vestido, para arruma-lo, encarou Alicia que estava louca para rir.
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Você está fugindo do Elijah – riu disfarçadamente –
Você, Isabelle Duchanne, está se escondendo daquele semideus, não me diga que... Ah, eu entendi. -
É, agora vamos fingir que nada ocorreu – a mênade falou envergonhada –
Eu vou até ele, certeza de que estou deslumbrante?-
Sim.-
Okay, lá vou eu. Engoliu todo o vinho que havia na taça e pegou outra no caminho. Tentou manter a calma, a confiança e é claro, a sanidade. O último tinha ido parar na parede e sido chamado de lagartixa. Nada muito preocupante, Isabelle estava melhor, havia se tratado, não iria jogar Elijah na parede. Pelo menos ela esperava que não.
Quando estava a alguns passos de distância o semideus notou-a. Agora era tarde demais para Isa fugir. Não conseguira evitar o sorriso bobo que se formou em seus lábios, Elijah estava maravilhoso naquela roupa, se tivesse intimidade suficiente ela certamente teria cantado ele.
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Elijah, que bom que veio – depositou um beijo na bochecha dele –
Faz um tempo desde a última vez que nos vimos, como tem andado?