September havia planejado fazer o famoso pedido havia um tempo, mas, não estava certo de como fazê-lo ou se a prole de Hécate aceitaria, no entanto, chegara um momento em que ele não aguentou mais a famosa espera e resolver levar seus planos a diante.

Levantou-se cedo naquele dia e foi até o local de encontro deles, o local em que tinha se visto pela primeira vez. Preparou uma espécie de painel branco e colocou um dispositivo que transmitia as memórias para tela (havia encontrado na Casa Grande e pegara sem Quíron saber). Em seguida o jovem foi até o chalé e escreveu um curto bilhete para sua namorada:


Empurrou o bilhete por baixo da porta do chalé dela e logo caminhou até o seu próprio onde tomou um banho e vestiu-se com uma regata branca, jaqueta de couro negra e calça jeans escura. Em seguida a prole de Thanatos caminhou para o local marcado com a garota. Nervoso não era bem a palavra certa, considerava-se mais ansioso.

Chegou lá e aguardou.


Quando a garota chegou no local ele perdeu um pouco o fôlego. Estava bela como sempre estivera, principalmente a luz da lua. Logo o projetor atrás de September começou a passar as lembranças que o garoto tinha dos dois e uma música a tocar de plano de fundo. Foi a deixa para o mesmo começar a falar.

— Oi. — Sorriu. — Eu te trouxe aqui hoje porque foi o primeiro lugar onde nos encontramos, e, bom, desde aquele dia eu soube que você seria diferente de todas as outras. Como espectro de Érebo, em tese, eu não teria sentimentos, mas, foi com você que eu reaprendi a senti-los. Sou eternamente grato por isso, não sei bem ao certo o motivo de ter aberto mão deles mas creio que tê-los de volta com você, foi a melhor coisa que me aconteceu. — O garoto suspirou e então prosseguiu. — Sei que você sabe que sou péssimo com palavras e não sei me expressar, mas, tenho que tentar fazer algo diferente ao menos alguma vez na vida, não é? — Ele sorriu novamente. Estava nervoso. — Alicia, eu te trouxe aqui e estou te mostrando essas lembranças todas apenas por um motivo: para dizer que você é a garota com que eu quero passar o resto da minha vida. Pode ser um ou dois dias, não importa, para mim valerá como a eternidade. Sabe, não tenho medo da morte. Mas terei se tiver que vê-la partir. — Então September se ajoelha no mesmo momento em que o vídeo chega no "quer se casar comigo?" e passa a passar uma idealização do futuro, feita por ele. — Alicia, faça os meus dias valerem a pena. Quer se casar comigo?

Ele então a encara, com frio na barriga.

O jovem sorriu ao ouvi-la proferir tais palavras, de alguma forma sabia que o que estava sentindo naquele exato instante era o mais próximo possível de felicidade. Alicia ajoelhara-se a sua frente e quando ele percebeu já estava nos braços da jovem, imerso em um beijo. Calmo, lento, sem pressa. Não precisaria haver um suposto amanhã, como eles brincaram no primeiro encontro, bastaria apenas o agora, apenas aquele momento.

— A nossa história não começou agora e sei que este é um capítulo muito importante, mas, não quero pensar nisso tudo como uma espécie de livro. — O garoto sorriu para a semideusa a sua frente e prosseguiu. — Livros tem finais, tristes ou felizes, não importa. O que eu quero é que nossa história seja uma eterna reticência.

September observou-a, ainda sorrindo, e levou a mão até a maçã do rosto da jovem, acariciando levemente. Em seguida, abriu sua jaqueta e de dentro de um bolso interno retirou uma caixinha verde de tom esmeralda e a abriu na frente da semideusa, revelando uma espécie de aliança diferente. Era prateada e com tons negros em volta de toda circunferência de modo que os desenhos lembravam as ondas do mar e a cor do metal lembrava o brilho das estrelas.

— Quero que aceite esse presente, não como uma forma de marcar território ou algo do gênero. Quero que aceite como forma do que sinto por você. Assim como meu sentimento, esse anel nunca se acabará.

O garoto então pegou a mão da mesma e ali depositou a aliança, dando um beijo no local logo em seguida.

Look q:

O garoto a observou, mesmo sabendo que a jovem chorava de felicidade, não sentia-se confortável com o fato de fazê-la derramar lágrimas, era como se estivesse machucando-a. Não entendia muito bem como essa coisa sentimentalista funcionava, mas, estava completamente decidido de que passaria o resto de sua vida com Alicia. Tanto em momentos bons, ruins, tristes e felizes, não importava. Ele permaneceria ao lado dela em todas as situações possíveis, não importando quais fossem.

— Não, linda. Nenhum trabalho é muito perto do que você faz por mim todos os dias. Eu já teria retirado a minha própria vida, sem hesitar, se você não fosse o motivo para querer acordar amanhã. Eu posso não saber o que é o amor mas sei que o que eu sinto por você nem se compara a esse sentimento bobo. O amor, para mim, não existe. Mas você, sim. E está aqui agora. É real. E quero que seja para sempre.

Nesse instante o garoto aproximou-se dela e ajudou-a a levantar-se. Segurou em suas mãos e olhou-a nos olhos depositando ali, pouco tempo depois, um beijo. Longo e demorado.

— Quero que dance comigo. — Sorriu e então deu play no projetor, novamente. Agora começava a tocar dangerously.

Alicia parecia estar um tanto sem jeito quando a música começou e, quando falou, o garoto percebeu o que tinha de errado. Ao ver dela, não era uma boa dançarina. A prole de Thanatos riu com a situação, também não era um exímio pé de valsa, mas, a música estava tocando e ele não pretendia demonstrar que não sabia o que fazer a partir daquele momento.

— Suba nos meus pés. — O jovem falou.

Tinha visto aquele tipo de cena várias vezes no cinema, quando seus pais mortos decidiam levá-lo. A garota lhe obedeceu e quando deu por si estavam bailando na areia da praia ao som da canção. A cabeça da jovem repousava sobre seu pescoço e ele fechou os olhos. Foi nesse instante que se arrependeu. Uma dor indescritível começou a subir por seu corpo e o mesmo conseguia sentir as marcas negras em seus braços esquentarem muito rapidamente. A garota pareceu sentir pois o observou com o olhar preocupado.

— Set, você está bem?

— Claro, claro. — Falou tentando não demonstrar o que estava sentindo por dentro. A própria fúria de Érebo. — Acho melhor te levar de volta para o chalé, está meio tarde. — Sorriu fraco. Não queria levá-la para o chalé, por ele, passariam a noite juntos mas a dor estava corroendo-o.

E o pior: Érebo poderia aparecer a qualquer momento.

O jovem, agora deitado no colo da noiva, tentava demonstrar que as dores estavam passando, tentava obedecer o que ela lhe falava mas tudo o que conseguia ouvir eram galhos se partindo e o vento frio da noite assoviando. Érebo estava puto, seu espectro lhe desobedecera novamente, mas, September agora não dava a mínima para o fato, com exceção, é claro, de estar morrendo. Aos poucos, sim. Mas ainda estava morrendo. Podia sentir aquela coisa corroendo-o.

— Hey, não fica preocupada. — Sorriu para ela. — Isso aqui é suportável.

Então a prole do deus da morte começou a tentar lembrar-se das famílias que matou, uma após outra. Da forma como aniquilou seus inimigos e como gostava de ver o sangue deles derramado. Dessa forma, aos poucos, a dor foi diminuindo. Sabia que de agora em diante teria de manter os pensamentos o tempo todo com ele. Principalmente enquanto estivesse com a prole de Hécate.

— Parece que Érebo não sabia que conseguiríamos contornar a situação. — Falou, ainda sentindo dor, porém, com uma menor intensidade. — Ao menos por enquanto.

Setembro se levanta do colo dela e observa o mar a sua frente. Sabe o que ela quer dizer, sabe muito bem o que ela quer dizer. Pode conviver com a dor, claro que pode, por ela faria coisas muito piores. Mas não era essa a questão. Érebo não havia posto apenas uma dorzinha nele, não. Era algo que corroía sua própria alma e, sabendo disso, um dia ele seria uma casca vazia. Não seria mais ele.

Isso o matava tanto quanto matava a prole de Hécate a sua frente. A jovem sabia que causava esse tipo de reação na prole de Thanatos e sentia-se extremamente culpada por isso. Mas a culpa não era dela, e sim, dele. Ele quem escolhera seguir Érebo e agora deveria pagar por tudo o que estava acontecendo. Não sabia se amar era um pecado, mas, se fosse, estaria disposto a pecar até o último dia de sua vida.

— Vamos dar um jeito nisso, Alicia. Eu prometo. — Sorriu fracamente para ela, devido as fortes dores e levou sua mão ao rosto da garota. — Eu amo você. Sei que amo. E nem Érebo nem o diabo vão me fazer esquecer disso. Posso estar sentindo a dor que seja, posso até nem existir mais. E, ainda assim, continuarei amando-a.

Ao proferir tais palavras o espectro toma o rosto da jovem em suas mãos e sela seus lábios nos dela em um beijo.