Salão de Festas
Inculta e bela, removia tranquilamente as luvas de seda negra, revelando os dedos esguios com unhas pintadas em bege. Deixou que as íris percorressem a imagem incrustada ao espelho feito de uma finíssima camada de prata, que a permitia contemplar a peça confeccionada outrora, mas que somente então selecionara para usar. No momento, os adornos dos diminutos brilhos obscuros de suas vestes faziam-na reluzir como sombra pura, dada a tonalidade daquele tecido nobre.
Preto, a ausência de todas as cores.
Descia como treva pelo corpo voluptuoso, até arrastar-se pelo chão com graça extrema. Tal qual, ainda mais delicado, recobria os braços até os pulsos, nos quais encontravam-se pequenos adornos de ouro como braceletes. Absoluto, contrastava a pele esbranquiçada como mármore grego, e sobre os ombros quase descobertos, caíam os cabelos penteados, loiros como os primeiros raios da aurora e que, de tão claros, por vezes poderiam parecer até mesmo prateados. Nas mãos agora livres, segurava delicadamente o objeto que faltava para finalizar toda aquela arrumação — diminuto, de pontas finas e detalhes cuidados em minérios valiosos, os quais delineavam o contorno sensual da aritmética simples.
Delicadamente, levou-a à face esguia de traços tão suaves, encostando-a contra a epiderme. Como mágica, aderiu-se ao rosto sem mesmo propiciar desconforto, estando impecavelmente harmônico ao vestido por ela selecionado. Perolando tal visual, retocou uma última vez o batom rosé nos lábios volumosos, dando um giro com um sorrisinho a brotar na boca, mediante a premissa do que aconteceria naquela noite. Respirou fundo, era o momento de rumar ao âmbito festivo.
~*~
Recaiu sobre ela a iluminação dourada que abonava o ambiente, imergido num luxo propício à aniversariante. Os tecidos e os lustres que enfeitavam o lugar faziam fractais luminosos moverem-se, esdrúxulos, pelos cantos ínfimos da localidade; tocavam os mínimos diamantes nas curvas de seu corpo e ele refratados novamente. De terno simples, porém com a face também oculta por uma máscara preta, o garçom que chegou perto de si estendeu uma bandeja dominada por taças altas de vinho branco — serviu-se de uma, girando o conteúdo até vê-lo formar um redemoinho no interior do cristal.
Ingeriu um gole, saboreando-o com a vivência de quem apodera-se de uma dose de néctar, ante os lábios pareciam revestidos com uma finíssima camada de umidade. O perfume feminino, tão leviano em seu aroma como os feitiços de uma flor, exalou de seu movimento quando os primeiros passos levaram-na ao interior do ambiente, aproximando-se de uma das enormes janelas e presenciando o céu estrelado lá fora.
Mais uma noite agradável.
Contudo, as íris azuladas como lapidadas safiras procuravam um alguém; cuja presença já lhe era tão comum que costumava ser diretamente associada à sua raiz. Hylla movimentou o queixo com tranquilidade, desviando a atenção à anfitriã assim que encontrou-a; o mais genuíno de seus sorrisos dominou-lhe o rosto. A dinamarquesa caminhou suavemente, aquele belíssimo vestido fazendo-a deslocar-se como uma sombra do pecado, e as pequenas ametistas que eram os ornamentos de sua máscara faziam-na parecer a precursora da luxúria.
Uma tempestade por completo.
Alcançou-a, exuberante em seu modo de viver, fluindo a imortalidade pelos poros. Embora soubesse que Isabelle evitasse o contato corporal, do qual Hylla é fã, ignorou o detalhe. Não era momento para formalidades, não ali, não entre aquelas duas. Envolveu-a no seu mais terno calor conjunto, trazendo o corpo atlético para si, comprimindo-a ao seu ser. Somente então se afastou para fitá-la nos olhos, grandes e belos. — Parabéns, Isa. — fora tudo que dissera. Afinal, não havia mais nada a ser dito.
— Eu fiz algo pra você... Aqui está.
Estendeu uma pequena caixa cúbica, preta e metálica, ornamentada com estigmas de prata e selos de proteção. Abriu-a, revelando um colar dourado forjado numa finíssima corrente, a qual terminava-se em uma ametista de tonalidade tão profunda que seu púrpura parecia beirar o negro profundo, tendo pequenos brilhos à ela aderidos, fazendo aquela pepita dar a impressão de ser um pedaço particular do universo.
— Minha mãe está tentando uma reconciliação e eu acabei por pedir um favor. — sorriu, fechando a caixa novamente após demonstrar seu conteúdo. Colocou-a nas mãos da aniversariante e melhor amiga, com um suspiro a fugir dos lábios entreabertos. — Conjurar o espírito deles do Mundo Inferior não foi fácil e... Bom, eles estão bem aí dentro. E agora, estarão sempre ao seu lado.
Afastou-se, deixando Isabelle. A mascarada ainda precisava encontrar outras pessoas naquela noite, uma delas sendo um artífice perigoso seu: uma de suas convidadas, cujos cabelos vermelhos estavam cheios de segredos e caos.
- Presente:
† With You/Colar [associação de uma fina corrente de ouro com um pingente de ametista celestial, tão forte que beira a cor preta. É pontilhada com brilhos particulares, fazendo parecer que é um pedaço roubado do cosmos. Todavia, sua única capacidade, além da beleza extrema, é de comportar as almas dos falecidos irmãos de Isabelle: Dems e Mike. Pode conversar com eles, ouvi-los e vê-los. Presente de aniversário de Hylla]