Minha cabeça latejava, talvez pelo fato de ter saído da obscuridade que sempre se encontrava meu chalé. Por incrível que para hoje estava de saco cheio de ficar parada dentro do chalé, e quando digo incrível é porque realmente isso é verdade, passava mais tempo dentro do que fora do chalé. O sol estava extremamente forte naquela tarde. Tão forte que mesmo com as enormes árvores do bosque do acampamento ao meu redor eu não conseguia me esconder de seus raios reluzentes. Era difícil encontrar sombra e eu corria por toda a floresta, queria treinar sozinho por um momento. Quando passei pela Arena, haviam alguns semideuses por lá, treinando. Alguns o faziam em conjunto, outros sozinhos. Existiam, também, aqueles que treinavam com fantoches e os que golpeavam o vento.
Caminhei para longe de todos os demais, como sempre, não queria ficar perto de outros semideuses, o interessante é que deveria ser o contrário, já que por ser filho de Poseidon sendo ele um dos três mais poderosos do Olimpo, era quase que dever ser o melhor e o mais forte, mas durante treinos com socos, chutes e pontapés gostava de os fazer sozinho em um canto, ajudava na concentração e consequentemente na perfeição dos golpes. Respirei fundo, duas, três, quatro vezes, estalei o pescoço segurando-os nas laterais. Estiquei o braço esquerdo rente ao peito e o puxei para mais perto com o direito, repetindo o inverso também. Repeti esse processo dez vezes com cada braço antes de passar para o próximo. Um aquecimento antes seria de muito bom agrado.
[...]
Caminhei para um boneco, o que estava mais longe dos demais, um dos que estavam espalhado pelo bosque após a arena, desembainhei a adaga de bronze celestial que sempre carregava comigo, a arma havia se encaixado perfeitamente em minhas mãos, mesmo assim, com o treino contínuo a arma se adaptaria ainda mais. Começaria a treinar com golpes simples, que qualquer pessoa seria capaz de fazer. O primeiro golpe foi uma estocada na altura do abdômen, não muito preciso ainda. O golpe atingiu alguns centímetros fora do lugar exato onde eu queria, admito, mas nada tão humilhante assim para uma novato com adagas, não? Exatamente, preferiria mil vezes um treino com espadas e lanças do que com um instrumento pequeno.
Insisti mais duas vezes na estocada, aumentando um pouco a velocidade delas. A primeira das três fora lenta, a segunda numa velocidade mediana e a terceira mais rápida. O próximo golpe escolhido foi um corte de baixo para cima começando na barriga e indo rumo ao pescoço. Foi um pouco melhor que o anterior. Aproveitei a deixa do golpe para, com um giro, acertar um golpe com a mão aberta na barriga do fantoche para desestabiliza-lo.
Minha mente começava a trabalhar a pleno vapor, dei um passo longo para trás, tomando distancia do alvo imóvel. Segurei a Adaga com um pouco mais de força e investi contra o boneco, golpeando novamente o mesmo, agora da direita para a esquerda. Sentia como se o sangue divino que corria em suas veias e que tinha total conhecimento facilitavam em certas coisas. Talvez todo semideus tenha nascido com um dom que o permita sobreviver nas situações mais adversas e, por isso, aprendiam certas coisas de modo mais fácil.
Sendo ou não por influencia do sangue divino, sentia como se pudesse ir um pouco mais longe sem se preocupar tanto com o cansaço. Começou a se utilizar um pouco de combos, então. A cada golpe com a adaga, usava algum outro golpe com a mão vazia ou chutes e pontapés para aproveitar as defesas baixas do “adversário” por causa do primeiro golpe dado. Intercalava os ataques com movimentos defensivos, como utilizar a adaga para bloquear uma arma invisível que almejava atingir-me, abaixar para desviar de um golpe ou até mesmo girar para o lado para evitar o ataque. Aproveitava a deixa ainda para às vezes tentar passar uma rasteira no fantoche, apesar de saber que este não iria cair. Era como um grande frenesi, sentia meu sangue correndo pelas veias, o tempo parecia ir mais lento, sentia cada movimento, cada respiração e as estocadas no boneco.
Por fim, o suor tomava conta de meu corpo, meu topete caiu formando uma franja que colara na testa, minha respiração por fim depois de horas que mais pareciam minutos estava ofegante, girei o corpo uma ultima vez e finquei a adaga no centro de seu corpo, onde ali deveria existir um coração. Deixei um sorriso malicioso e ainda sim satisfeito escapar entre meus lábios. E então caminhei de volta ao chalé, esperançoso por um longo banho para acalmar.
credits: caio ibranovski